quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Qual a novidade do Pnad?

Peculiaridades do Brasil. Ou deveria dizer: desigualdades do Brasil. Ou melhor ainda: Que país é esse? Qual a novidade? Que o Brasil tem mudado, para melhor, não há dúvidas. Mas as desigualdades estão tão enraizadas na essência do que formou a nação brasileira, que é difícil se desfazer das máculas geradas pelo processo de colonização brasileira.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desigualdade caiu acentuadamente de 2009 para 2011. Junto com ela, houve queda também no analfabetismo. Dentre a população de 15 anos ou mais que não sabe ler ou escrever houve redução. No registro anterior, eram 14,1 milhões de pessoas analfabetas. Em 2011, são 12,9 milhões. E como o emprego não pode ser desvinculado da questão da Educação, o Pnad traçou um perfil do desempregado brasileiro.

A histórica desigualdade social do Brasil está no cerne do desemprego. Mesmo havendo queda na massa de desempregados, estes continuam sendo os mesmos que estavam no lado podre do Brasil séculos atrás. A coisa é velha, embora muitas vezes um verniz aqui, uma maquiagenzinha ali consiga disfarçar a carranca. Os que não conseguem emprego, em sua maioria, são mulheres, negros ou pardos e os mal formados.

Se olharmos, sem profundidade mesmo, para a história do país, veremos que as mulheres, negros ou pardos sempre tiveram pouco ou nenhum acesso à Educação e são os próprios mal formados ou não formados. São esses os encarregados do subemprego e que numa guerra mundial pelo trabalho, acabam ficando sem ele.

Não quero aqui deixar um registro rabugento. Daqueles que insistem em dizer que o Brasil não muda. Já afirmei e reafirmo: o Brasil mudou bastante e para melhor. Mas é necessário que a vontade política para revolucionar a Educação desse país seja mais agressiva que as mazelas causadas pelas desigualdades sociais. É necessário que a cada resultado do Ideb, o Ministério da Educação não tenha aquele sentimento dos fracos, que se satisfaz com o fato de, mesmo não tendo atingido a nota padrão, ter melhorado a nota. Esta é uma área em que não há espaço para a alegria ao se caminhar com passos de formiga. As passadas devem ser as de um Usain Bolt. Caso contrário, daqui a uma ou duas gerações o Pnad vai continuar mostrando os desfavorecidos de sempre. E qual será a novidae? 

quarta-feira, 27 de junho de 2012

RIO + QUANTO?


Dilceia Norberto

Desde o último dia 12, o Rio de Janeiro vive o clima da Rio + 20. A conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente acontece 20 anos depois da Eco 92, conferência de mesmo caráter, ocorrida na cidade, que tentou desenhar as diretrizes para um mundo em que a ecologia tivesse mais destaque e o homem conseguisse viver em harmonia com ela.


De acordo com Sha Zukang, secretário-geral da ONU para a Rio + 20, o planeta passou por muitas transformações nas últimas duas décadas. Para ele, o mundo teve um grande desenvolvimento econômico, tornou-se mais globalizado, mas ao mesmo tempo, também tornou-se menos sustentável.

Ambientalistas acreditam que a insustentabilidade dos dias atuais não deixa margem para teorias que não sejam concretizadas com urgência – O trabalho da ONU na Conferência não é falar, é agir – afirma Zukang. Mas os responsáveis por acertar o texto a ser discutido pelos chefes de estado e de governo na Rio + 20 tiveram muitas dificuldades. O consenso foi difícil de alcançar. Faltando um dia para a chegada dos responsáveis por tomar as decisões, ou não, o texto final ficou pronto de forma insatisfatória, sendo chamado por críticos mais arraigados de “Rio menos 20”.

Outro ponto de desavença é o termo escolhido como foco da conferência: Economia Verde e erradicação da Pobreza. Ambientalistas, representantes de governo e representantes da sociedade civil têm pontos de vista díspares. Sha Zukang credita o problema em definir o que é economia verde ao fato de a ONU possuir membros com diferentes níveis de desenvolvimento. Mas afirma que mesmo assim, os países precisam criar estruturas capazes de sustentar o desenvolvimento para a implementação da economia verde.

A ideia dos conceituadores da conferência é, através da economia verde, criar um planeta sustentável. Todos reconhecem que numa verdadeira sustentabilidade não há espaço para a pobreza extrema e nem para populações doentes. No entanto, fica cada vez mais difícil acreditar que os chefes de estado e governo atingirão um ponto comum, quando um país importante como os Estados Unidos veta trechos do texto da Rio + 20, que fazem referência ao acesso universal a cuidados médicos e a remédios. Os EUA se opõem totalmente à sugestão do Brasil de quebra de patentes em casos de pandemias.

A União Europeia também se opôs a vários itens do texto e se recusou a discutir a doação de recursos para financiar o desenvolvimento sustentável em países pobres, além de rejeitar a sugestão de transferência de tecnologia. Isso fez com que o embaixador Luiz Alberto Figueiredo, negociador-chefe da delegação brasileira, deixasse de lado o tom diplomático e rebatesse as críticas recebidas pelos europeus, que exigem mais ambição no texto da Conferência. Para Figueiredo, exigir ambição e não colocar dinheiro na mesa, é no mínimo incoerente.

Eleita presidente da Rio + 20, Dilma Rousseff, presidente do Brasil, discursou na abertura da primeira reunião de cúpula da Conferência. Em sua fala, a presidente pediu aos líderes que não deixem a crise econômica fragilizar a Rio + 20. Ela também criticou os países desenvolvidos por não cumprirem as promessas feitas há 20 anos, na Eco-92

Wen Jiabao, primeiro ministro da China, fez críticas na mesma linha da colega brasileira. Para ele, não se pode limitar o ritmo de crescimento dos países, numa referência às nações consideradas ricas, que questionam o modelo de desenvolvimento da economia chinesa. De acordo com Jiabao, a China, apontada como um dos maiores emissores de gases poluentes do planeta, está pronta para assumir suas responsabilidades.

Discurso que também chamou a atenção foi o do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Com um tom religioso, o iraniano pediu uma nova ordem mundial , com base em uma visão holística e estruturada na crença de um único deus. Criticou, sem mencionar os EUA, as guerras da Coreia, do Vietnã e a “guerra que os sionistas declaram contra os árabes”. Em protesto, a delegação israelense não ficou na plenária para ouvir o pronunciamento do muçulmano.

A sociedade civil foi representada pela estudante neozelandesa Brittany Trilford, de 17 anos. Em seu discurso, a jovem apelou aos chefes de estado e de governo que coloquem os interesses das crianças acima de tudo. E com urgência. “O tempo está passando”, disse Trilford, o que fez lembrar Severn Suzuki, a menina canadense, que na Eco-92, aos 12 anos, fez um discurso contundente pedindo que as autoridades mundiais agissem para melhorar a vida de todas as crianças. Hoje, aos 33 anos, Severn Suzuki dirige a Fundação David Suzuki, criada por seu pai para alertar sobre questões ambientais, como o aquecimento global.

Espera-se que daqui a 20 anos, o discurso de Brittany Trilford já esteja ultrapassado e não atual, como o de Severn Suzuki, pronunciado 20 anos atrás, mas completamente válido para os dias atuais. Ou teremos que esperar pela Rio + 40, Rio +60, Rio +80...