domingo, 25 de julho de 2010

Perda de futuro

"Lugar de criança é na escola". Assim afirma o Ministério da Educação com a anuência da maior parte da população brasileira. No entanto, se faz importante verificar o real significado de escola. Ela não pode ser muitas coisas, menos ainda um lugar para morrer.

O pequeno Wesley Gilbert de Andrade, de onze anos, morreu numa sala de aula. O lápis ainda estava na mão enquanto seu peito sangrava e seu copinho caía para sempre. Ele estava onde deveria estar, na escola. Ou será que não?

Jovem, pobre, negro e favelado. Perfil mais que adequado para encher as estatíscas dos casos de homicídios dos grandes centros urbanos do Brasil. Wesley cumpriu aquilo a que todos já estão acostumados. Morreu de forma abrupta numa área pobre da cidade. Justamente onde há sete vezes mais chances de morrer violentamente do que em bairros como a Lagoa, por exemplo.

Este é um fato que nos emudece. Se o menino estivesse na rua, todos diriam: São dessas crianças que os pais deixam largadas e viram bandidinhas. Mas o que dizer quando a criança está num Ciep que faz parte de um projeto chamado Escolas do Amanhã, unidades da rede municipal situadas em áreas de risco que recebem reforço escolar?

As dificuldades do menino, como da maioria das crianças de escolas públicas do Brasil, podem ser vistas num questionário que respondeu, entre abril e maio deste ano, ao jornal O Globo. Logo vê-se que o reforço é mais do que necessário. Vê- se também que o maior medo de Wesley se concretizou. Ele temia tiroteios e balas perdidas.

O caso do pequeno Wesley deixa claro que desconsiderar aprovações automáticas e criar projetos de reforços não resolvem os problemas educacionais de crianças pobres. Pois elas continuam expostas a um péssimo sistema de saúde e a um assassino sistema de segurança, que causa muita dor e perda das nossas crianças. Ou seja, do nosso futuro

Dilceia Norberto