domingo, 6 de junho de 2010

Incompetência automática

Aprovação automática. Aprovação automática. Esta parece ser a única frase considerada solucionática para as autoridades educacionais deste país e por isso, sempre repetida. Toda vez que se fala na tentativa de extinguir a evasão escolar, consequentemente, fala-se da extinção da reprovação.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) tomou a decisão de recomendar "fortemente" que todas as escolas públicas e privadas do Brasil aprovem automaticamente os alunos dos três primeiros anos do ensino fundamental. Tal decisão ocorreu após avaliação dos dados tenebrosos do censo escolar 2008. Foram 74 mil aluninhos, de seis anos de idade, reprovados.

Diz-se que o Brasil tem uma cultura de reprovação. Deixando assim, tem-se a sensação de que a reprovação vem do nada. Vem simplesmente para se opor à aprovação. E já que não há qualquer coisa por trás, parece não ser necessária outra medida, se não exterminá-la para garantir o sucesso escolar do brasileiro e quem sabe, o sucesso do Brasil.

A dúvida que fica é: Por que a progressão automática é sempre vista como a primeira solução para resolver os problemas de 31 milhões de alunos? (números do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep))

Não se vê o CNE recomendar "fortemente" que as escolas sejam interessantes e atraentes para os estudantes. Tudo através de uma reestruturação verdadeira e profunda da educação. Com escolas de horário integral e professores bem remunerados e preparados, com dedicação exclusiva a determinada escola. O Ministério da Educação (MEC) deveria obrigar as instituições de ensino a tornarem -se capazes de inverter os desejos dos alunos . Estes preferem a rua à sala de aula, um local incapaz de transformar pessoinhas em cidadãos essenciais para o país e o mundo.

Com a recomendação do MEC pela progressão automática nos três primeiros anos do ensino fundamental, cada escola terá autonomia para gerir e criar seu projeto pedagógico. Imagine o samba do criolo doido! É inviável que a qualidade no ensino seja alcançada dsta forma.

O que parece ter acontecido, é que o próprio MEC passou por processos de progressão automática. Pois não demonstra ter aprendido com experiências como as que resultaram na necessidade de realfabetização de 12 mil alunos dos 4º e 5º anos e no reconhecimento de 17 mil alunos do 6º ano como analfabetos funcionais no Rio de Janeiro, em 2009. No entanto, alguns especialistas vêem a aprovação automática como algo positivo. Pois associam a proibição da reprovação à obrigação de ensinar. Ora, para que serve mesmo a escola?

De acordo com o Índice de Desenvolvimento Educacional (IDE) apresentado pela Unesco, o Brasil ocupa a péssima 88º posição,atrás de países como Venezuela, Paraguai e Bolívia. E com medidas como a progressão automática, parece cada vez mais perto de... continuar onde está. Embora Feranando Haddad, ministro da Educação, tenha dado como prazo o ano de 2022 para que o Brasil atinja níveis de educação compatíveis com países de primeiro mundo.

A economia do Brasil cresceu nos últimos anos e em meio a imensa crise internacional, obtivemos status de país desenvolvido. Contudo, o teto desse crescimento é muito baixo graças aos gargalos encontrados. Gargalo é a palavra da moda e um fato do Brasil e parece que as autoridades incompetentes querem associá-la à reprovação. E aí já viu! Eliminando um, elimina-se o outro.

Nunca antes na história deste país ficou tão claro que educação de qualidade não é para ontém. É para o século passado, tamanha a urgência. E que progressão automática é coisa para um ótimo sistema educacional já estabelecido.Pois se for implantada num sistema fraco como o nosso, só vai gerar mais gargalos e incompetência automática.


Dilceia Norberto